sexta-feira, 13 de março de 2020

A empatia na Medicina no contexto da Saúde 4.0

Saudações a todos! Hoje eu gostaria de fazer uma pausa nas tecnologias exponenciais e disruptivas para falar de um soft skill bastante complementar a elas que, embora não seja algo novo, tem potencial de impactar positivamente a saúde das pessoas e é algo que nenhuma inovação ou tecnologia pode, isoladamente, alcançar.  Vamos falar sobre empatia na medicina.

Devido à minha especialidade médica focaremos na área que vivencio no meu cotidiano enquanto  radiologista, mas creio que muito possa ser extrapolado para outras áreas.


A definição acima é a primeira que encontramos no dicionário Michaelis. Ou seja, empatia basicamente é a capacidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa.

Porque isso é importante quando se fala em saúde 4.0? Como já vimos em postagens anteriores, há inúmeras tecnologias que já estão sendo aplicadas na medicina buscando melhorar a prestação dos serviços médicos, automatizando tarefas repetitivas. Algumas especialidades, especialmente aquelas baseadas em reconhecimento de padrões como a radiologia e a patologia, devem ser fortemente impactadas pelo uso de inteligência artificial. O que pode parecer um armageddon a primeira vista pode, na verdade, ser apenas uma transição evolutiva dessas especialidades, abrindo espaço para o médico ser mais... médico. Como lembrou meu amigo Marcelo Balancim em um post recente, exercer mais o "doctoring", como conceituado por Eric Cassell.

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crédito: https://www.psychalive.org/empathy-can-help-us-right-now/

Como o tema, mesmo fechando mais na radiologia, é realmente amplo, vamos nos concentrar em duas das suas vertentes.

Falando então sobre o médico radiologista ,seria seu único produto de trabalho o laudo confeccionado após interpretar as imagens de uma, por exemplo, ressonância magnética? Seria possível fazer algo mais além dessa entrega tradicional (considerando que um laudo correto é pré-requisito)?

Considero que sim, radiologistas podem fazer mais. Indo além, penso que quem não puder ou fizer tende a perder relevância em um horizonte não tão distante em que algoritmos cada vez mais eficientes de AI podem tornar esse radiologista um mero "validador" de relatórios baseados em AI. Sabemos que há discussões se a AI pode chegar ao nível de um laudo médico praticamente completo, especialmente em métodos de imagem pesada como tomografia computadorizada e ressonância magnética, mas vamos nos valer dessa simplificação.

O que podemos entregar a mais então? Fazendo um exercício de empatia, ou design thinking caso se queira utilizar um termo que anda em maior evidência, talvez possamos entregar mais valor ao médico que solicitou o exame estando disponíveis para discutir casos mais complexos com ele, ajudando-o  na decisão do tipo de tratamento.  Também podemos avisa-lo ativamente de algum achado inesperado ou mais grave nos exames de um paciente seu. Estes são valores que nunca poderão ser entregues adequadamente por nenhuma tecnologia, dependem desse soft skill empático que merece ser desenvolvido e aprimorado por todos nós.


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crédito: https://www.sbmastologia.com.br/medicos/noticiasmedicas/medicina-baseada-em-empatia-vendo-atraves-do-olhar-do-outro/

Outra vertente da empatia no trabalho de um radiologista é sobre sua entrega mais básica, o laudo (ou relatório para os colegas portugueses). Sendo um radiologista musculo-esquelético, meu principal cliente médico são ortopedistas. Há várias formas de se fazer um laudo radiológico. Talvez a maioria de nós tenha aprendido uma sequência de itens a ser citados (primeiro meniscos, depois ligamentos, depois cartilagens, etc), não necessariamente sequenciais em relação às alterações que se encontram nos exames. Muitos seguem com esse padrão ao longo da sua vida profissional.

Mas... seria essa forma de laudo a melhor para quem vai recebê-lo e interpreta-lo? Vamos fazer novamente um exercício de empatia / design thinking, colocando-nos no lugar de um colega médico que vá ler os laudos. Provavelmente esta estrutura de laudo não faça sentido. Provavelmente faça mais sentido descrever primeiro os achados mais importantes e, quando houver relação entre eles, também dispor esses achados sequencialmente.

Também não faz sentido utilizar 5 linhas para descrever algo que possa ser descrito, de forma objetiva, concisa e sem perda de conteúdo, em 2 linhas. É importante passar as informações da forma que elas possam ser mais facilmente compreendidas pelo cliente médico, sempre entregando o máximo de conteúdo da forma mais objetiva possível.

Esse processo, além do exercício empático, envolve obviamente conversar com os médicos prescritores e tentar entender suas reais necessidades quando pedem um exame, que tipo de informações são mais relevantes e como entrega-las de forma clara e objetiva.

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crédito: https://gblogs.cisco.com/uki/why-is-empathy-important-in-customer-experience/

No contexto de inovações e disrupções que surgem quase semanalmente (como novos algoritmos de AI) e podem agilizar nosso trabalho automatizando o que possa ser automatizado, esse tempo extra proporcionado pode ser utilizado para sermos mais médicos e menos técnicos e exercícios de empatia e design thinking no nosso cotidiano podem nos auxiliar nisso.

Em paralelo, os pacientes seguem em uma outra vertical paralela disruptiva tornando-se mais engajados na gestão da própria saúde graças a tecnologias exponenciais e à internet, como já abordamos em outros artigos por aqui. O resultado desse caldeirão de mudanças tem tudo para nos conduzir a vidas mais longas e saudáveis.

E na sua área de atuação? Como a empatia pode lhe ajudar a ser um profissional melhor, entregando mais valor para a Saúde? Escrevam nos comentários e, se gostaram do post, compartilhem com seus amigos e conexões. Até a próxima!

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